A importância do ensino da homeopatia nos núcleos populares no contexto político social da saúde no Brasil

A homeopatia chega ao Brasil em 1840 trazida pelo médico francês Benoit Mure, considerado o fundador da homeopatia no Brasil. Em meio a polêmicas e embates entre os médicos alopatas e a “nova” ciência que se apresentava a partir do paradigma vitalista, um dos objetivos de Mure era implantar institutos de formação e ligas homeopáticas que fossem propagadores da arte de curar – a homeopatia. O embate não era somente médico ou cientifico, era também político social, pois Mure trazia consigo o desejo de difundir uma medicina voltada aos mais pobres. Isso incluía o ensino da homeopatia para não médicos, pessoas que pudessem difundir a homeopatia e fazer com ela chegasse aos “mais necessitados” e em lugares onde a medicina alopática não chegava, como os povos escravizados ou trabalhadores pobres do interior1 .

Benoit não só traz a homeopatia para o Brasil, como promove a socialização do saber homeopático, e inicia uma prática que foi se consolidando ao longo das décadas que é a formação de homeopatas populares, fazendo com que essa medicina chegasse cada vez em mais pessoas. Nas últimas décadas, a homeopatia tem sido amplamente difundida em núcleos populares, sobretudo através da atuação da Universidade Federal de Viçosa, que há mais 30 anos vem formando homeopatas populares. Neste período, associações, institutos e organizações populares se constituíram em torno do ensino e da prática homeopática pelo Brasil. No contexto político e social de saúde no Brasil, o ensino popular da homeopatia dialoga com saberes tradicionais de cuidado relacionados a natureza, e facilita o acesso de muitas pessoas a um sistema de saúde vitalista, não convencional, autônomo e acessível economicamente. Além de promover uma outra compreensão das dinâmicas de saúde e doença e seu equilíbrio, de forma integral.

Quando a homeopatia chega nesses lugares como conhecimento, ela é praticada e ressignificada, se transfomando em novos conhecimentos, com novas experimentações locais e cada vez mais pessoas e ambientes sendo beneficiados. Sobretudo onde outras medicinas chegam de forma tão incipiente e muitas vezes desconectado das realidades locais. Tanto o ensino popular como a prática que decorre dele demonstram a eficácia da homeopatia ao longo de décadas. E a afirmam a importância de ser uma ciência livre, popular e adequada a diferentes contextos sociais, além de ecológica2 . E assim, ela se torna cada vez mais viva, porém sem se perder da sua origem, os ensinamentos do mestre Hahnemann. (Fernanda Miranda. Terapeuta Homeopata. Agrônoma e assessora em homeopatia na agricultura. Professo de homeopatia do instituto de homeopata e Terapias populares – IHTEPO.)


1. Luz, Madel T. A arte de curar x a ciência das doenças: história social da homeopatia no Brasil. Porto Alegre: Rede Unida, 2013 (referência nas páginas 88 a 106)

2. Casali, Vicente W. D.; Andrade, Fernanda M.C.; Cupertino, Maria do Carmo. Homeopatia, Agroecologia e Sustentabilidade. Revista Brasileira de Agroecologia, [S.l.], v. 6, n. 1, june 2011. ISSN 1980-9735.

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